quinta-feira, 25 de julho de 2013

Bert Trautmann, ex-prisioneiro de guerra e herói

Foto: Guardian
A história de Bert Trautmann é dessas que só vemos nos filmes, de heróis de guerra que viram mundialmente famosos por um feito estrondoso no campo de batalha. Morto nesta sexta-feira aos 89 anos, o ex-goleiro do Manchester City passou por poucas e boas antes de morrer numa pequena cidade espanhola da região de Valência.


Evidente que ele viu muito durante quase nove décadas, servindo ao exército alemão na Segunda Guerra Mundial e virando prisioneiro de guerra dos ingleses. Como soldado, Bert ganhou várias condecorações da sua tropa e sobrevivente de uma frente de batalha, foi capturado e passou algumas temporadas em cárcere.

Solto em 1948, começou a jogar aos 25 anos por um pequeno time de Lancashire, o St Helens Town. Um ano depois, seus talentos como guarda-metas chamou a atenção do Manchester City, onde ele iria entrar para a história numa final da Copa da Inglaterra em 1956. Contra o Birmingham, foi dividir uma bola com o atacante Peter Murphy e teve uma fratura no pescoço. Persistente, continuou jogando, mesmo em péssima condição e com seu equilíbrio diretamente afetado.

Sobreviveu ao fatídico lance e caminhou normalmente (com uma mão no pescoço) até o pódio onde comemorou com os colegas o título da competição. Por esse ato de bravura também venceu o prêmio de melhor jogador do ano pela associação dos cronistas esportivos ingleses.

A sua maior medalha não foi reconhecida

"Perdemos a final no ano anterior para o Newcastle, mas voltamos no ano seguinte para vencer. Muitas pessoas se lembram daquele jogo só por causa da lesão. Joguei mais de 500 jogos pela liga e ainda vejo que aquele momento é o mais célebre da minha carreira. É um pouco frustrante saber que não importa como ou quanto eu tenha jogado, sempre dirão que 'ah, você é aquele cara que quebrou o pescoço em Wembley'. Admito que não é algo que gosto, particularmente. Mas aprendi a viver com isso", confessou Trautmann em 2011 ao jornal inglês Guardian.

Diria ele mesmo que mais importante do que ter sobrevivido naquela tarde, era ser o primeiro alemão a jogar numa final de Copa da Inglaterra. Ainda que anos antes ele tenha sido hostilizado pelos próprios torcedores por fazer parte da linha de frente do exército alemão na segunda guerra. Não raro ouvia gritos de 'nazista! nazista!' das arquibancadas.

Nada como um dia após o outro, quando ele deixou de ser um vilão aos olhos da torcida e virou herói de uma conquista emblemática do Manchester City, onde jogou de 1949 a 64. Trautmann também teve papel fundamental nas tratativas de reconciliação pós-guerra entre Inglaterra e Alemanha, recebendo uma condecoração da Ordem do Império Britânico.

De acordo com o Guardian, Bert ainda teria sofrido dois infartos nos últimos anos. Faleceu na cidade de La Llosa, integrante da comunidade valenciana. Morre o homem, fica a lenda. Por incontáveis motivos, Bert Trautmann merece ser lembrado como um grande herói.





*Post originalmente publicado na Trivela

Felipe Portes é estudante de jornalismo, tem 23 anos e é redator na Trivela, além de ser o dono e criador da Total Football. Work-a-holic, come, bebe e respira futebol.

"O futebol na minha vida é questão de fantasia, de imaginário. Fosse uma ciência exata, seria apenas praticado por robôs. Nunca fui bom em cálculos e fórmulas, o lado humano me fascina muito mais do que o favoritismo e as vitórias consideradas certas. Surpresas são mais saborosas do que hegemonias.

No twitter, @portesovic.

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